-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
* 7.280' LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

. . .

O bem do mal

Mote: Tristão da Silva / Glosa: Marco Oliveira 
Música de Ricardo Rocha *fado madre de Deus*
Repertório de Marco Oliveira 

Quando a saudade vier
Morar dentro do teu peito
Então é que vais saber
Todo o mal que me tens feito

Trazes tanta sedução 
Quando vens para me ver
Mas hás-de ter coração 
Quando a saudade vier

Se eu não vejo mais ninguém 
Que me encante desse jeito
Não vás deixar outro bem 
Morar dentro do teu peito

Há tanta mulher no mundo 
Que se entrega por prazer
Mas num beijo mais profundo 
Então é que vais saber

Se eu não vejo mais ninguém 
Se tudo em ti é perfeito
Acredito que é por bem 
Todo o mal que me tens feito

Fado do forcado

Manuel Andrade / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de João Chora

Pra manter a tradição
Legada pelo passado
Brilham rosas em botão
Na jaqueta do forcado

O barrete é verde esperança 
De orla vermelha garrida
Deu-lhe o campino a herança 
Da meia branca comprida

E de forma afiambrada 
Sapatos de prateleira
E a cinta bem apertada 
É posta à antiga maneira

Frente ao toiro, voz da raça 
Bate as palmas firmemente
Fita de longe e com graça 
Esse forcado valente

É por isso e com razão 
Que canto neste meu fado
Brilham rosas em botão 
Na jaqueta do forcado

Meu amor onde navegas?

Mário Raínho / António Neto
Repertório de Cristina Maria

Meu amor, meu silêncio tão tardio
Em que mar, teu olhar tu me negas
Nevoeiro que me esconde o navio
Onde navegas, onde navegas, onde navegas?

No cais do olhar
Este pranto, esta dor
Vai dizendo ao mar
Pra que voltes, meu amor

Meu amor, nesta busca enlouqueço
E em ondas, só de lágrimas se entrega
A saudade, onde sempre tropeço
Onde navegas, onde navegas, onde navegas?

Menino triste

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório de Jorge Fernando c/ Jorge Nunes


Olhos fixos, tristes, fixos não sei onde
Redondos, parados, lentos e perdidos
E o que de triste às vezes o olhar esconde
São mágoas a exorcizar-nos os sentidos

E o vento, entre os cabelos ao vento
Como dedos solidários e profanos
Eram como duas mãos a dar-lhe alento
Não tinha mais que dez ou doze anos

De que profundezas sofreu, o abismo
Que de brincar, recusou todo o seu ser
E que mão lhe derramou um tal cinismo
De culpas e recusas de viver

Não lhe deu afago a vida, e então ele
Cresceu no corpo em que a alma lhe cresceu
Trago todo na memória e em minha pele
Porque esse menino triste… era eu

Travessa do poço dos negros

João Gil / Luís Represas
Repertório de Carlos Zel 

A história que a gente vos quer contar
Aconteceu um dia na Lisboa
Aonde o tempo corre devagar
Chegamos, era cedo, à Ribeira
Ainda todo o peixe respirava
E a outra carne aos poucos definhava

O gemido do cordame das amarras
Juntava-se ao lamento dos porões
E o que nos chega fora são canções
A gente viu sair 
Uma outra gente que dançava
Um estranho bailado em tom dolente
Marcado pelo bater das correntes

Anda linda
Vamos p'ra ver se é verdade
Que lá se pode ouvir cantar
Anda linda
Vamos ao poço dos negros
Pra ver quem pode lá morar

Mais tarde fomos ter àquela parte da cidade
Que é mais profunda do que a maré baixa
E a lua só visita por vaidade
De novo a estranha moda se dançava
Agora com suspiros de saudade
Agora com bater de corações

Batiam-se co’as barrigas 
E roçavam-se nas coxas
Os corpos já dourados de suor
E as bocas já vermelhas dos amores
Quisemos nós saber 
Qual é o nome desta moda
Respondeu-nos um velho já mirrado
Lundum...
Mas se quiserem chamem fado

Cantiga

Cabral do Nascimento / Marco Oliveira
Repertório de Marco Oliveira 

Se o vento sopra e rasga as velas
E a noite é gélida e comprida
E a voz ecoa das procelas
Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar

Se erguem as ondas mãos de espuma
Aos céus, em cólera incontida
E o ar se tolda e cresce a bruma
Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar

À praia, um dia, erma e esquecida
Hei-de com amor, de te levar
Deixa-te estar na minha vida
Como um navio sobre o mar

Velha Lisboa

João de Freitas / Popular *fado corrido*
Repertório de Francisco Martinho 

Ó Lisboa do passado
Que é feito da tradição
Em que o fado era mais fado
E falava ao coração


Da tua grande beleza
Deves sentir-te orgulhosa
E ao mesmo tempo saudosa
Da passada singeleza;
Tu eras bem portuguesa
Tinhas nisso galardão
Mas hoje o lindo pregão
Já não se ouve em qualquer lado
Ó Lisboa do passado
Que é feito da tradição


Já não te lembras das hortas
Das esperas e tipóias
E dessas belas rambóias
Que haviam fora de portas;
Ali, até horas mortas
Em tempos que já lá vão
O fado linda canção
Em silêncio era escutado
Porque o fado era mais fado
E falava ao coração

De mim para mim

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório do autor 

Abro uma mensagem 
Que se alinha entre as outras 
Mas com o teu nome
Digita as palavras 
A esconder um cara a cara
A que tu queres fugir
Sei como é difícil 
Dizer coisas que nos doem
E que nos consome
Falta-te a coragem 
Nas memórias do que um dia
Em ti eu fiz sentir

De mim para mim
Há a certeza de que pouco errei
Confesso que do amor eu pouco sei
Que é uma fraqueza nascermos assim
De mim para mim
És a questão sem poder resolver
O equilíbrio que eu não sei manter
E assim é certo chegarmos ao fim


Suspeito que o tudo 
Que te dei foi demais
E por demais ser, pequei
É a ingenuidade de quem ama
Para lá de querer cuidar de si
Por ser transparente 
Como um espelho, reflecti-me
E em tuas mãos fiquei
E num jogo sem renúncias, fui às cegas
Virei trunfo e perdi

Bola prá frente

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório do autor 

Bola prá frente
Há tanta gente que joga ao contrário
Leva a vida a falhar
Que a lei vigente
É para a gente que manda no jogo
E há-de sempre mandar

Caio na selva redonda, esférica
Gira em seu eixo
O jogo é feio e bola na relva
Que a Selva tende a ser fatal;
Num manifesto, leio o zodíaco
Estamos em peixes
Chuto na bola, pois sou ambidestro
E o protesto, se falho, é geral

Lestos e prontos
Afundam fundo nos bolsos da gente
Sempre ao ataque, pois que nos descontos
Há pontos para disputar
Caio na selva
Não vejo fuga nem saio do banco
Não vou ao jogo e bola na relva
Que a selva não sabe arbitrar 

As fontes

Sophia de Mello Breyner / Filipe Raposo
Repertório de Ana Laíns 

Um dia quebrarei todas as pontes 
Que ligam o meu ser, vivo e total
À agitação do mundo, do irreal
E calma subirei até às fontes

Irei até às fontes onde mora
A plenitude e o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora
E na face incompleta do amor

Irei beber a luz e o amanhecer
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa
E nela cumprirei todo o meu ser

A minha história

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório do autor 

Actos de contrição ou fé perdida
A vida que se estende como esmola
O quase, a apoquentar-me sempre a vida
Mas eu mãe, só sei tocar viola

Dentro de ti roçaste a alma isenta
Da argúcia, que me falha a toda a hora
Sou triste, e a alma é triste quando tenta
Enquadrar-se no que há de si por fora

Dizes de mim que o coração me trai
Ao cegar-me a razão e o pensamento
Que eu tenho os olhos iguais aos do pai
E tal como ele, ando ao sabor do vento

Sinto-me como a flor, cuja raiz
Pela secura da terra, a flor isola
Quis ser como tu querias, sempre quis
Mas eu mãe, eu só sei tocar viola 

Ficou a sombra da vida

Alice Maria / Popular *fado mouraria*
Repertório de André Batista

Sombra que passas distante
Deste meu peito assombrado
Não és amor nem amante
Somente tristeza e fado

Sou sombra por ter amado 
Outra sombra que perdi
Sou sombra por ter ficado 
Sonhando a sombra de ti

Foste caminho sem nome 
Foste roseira sem flor
Foste passado sem sorte 
E coração sem amor

Agora, por ter ficado 
Uma sombra não vivida
Dessa sombra do passado 
Ficou a sombra da vida

O pobre

Jorge Fernando / Guilherme Banza
Repertório de Jorge Fernando 

Não conduz a nenhum lado
Deixar-nos ir abaixo 
Por qualquer coisinha
Tenho o meu lugar guardado
Fica lá tu na tua 
Que eu fico na minha

Levanta o astral e foge
Das ondas que te afundam 
Nessa escuridão
Não percas o teu dia
Porque o dia de hoje
Já não volta a passar 
Pela tua estação

Olha que a lua acontece
Crescente, cheia, nova 
Ou a minguar
E o redondo que daqui 
Se lhe conhece
Escurece e então d
eixa 
De se arredondar

Quando a tempestade cai
Há sempre um telhado 
P'ra nos recolher
Quando o bom humor se vai
Sai dessa que há saída 
P'ró que acontecer

Se o vento sopra de frente
Dá costas e não cuides 
Ter de o enfrentar
Porque muito embora 
Por mais que se tente
O querer ir p'rá frente 
Faz-nos recuar

Portanto não vale a pena
Gastar o nosso tempo 
Em coisas pequeninas
Se em nós a alma se quiser 
Tornar pequena
Há que dar-lhe o tamanho 
Das coisas divinas 

A tantas palavras loucas
Faço as orelhas moucas
Andam roucas tantas bocas
De dizer só mal dizer;
Nem tudo o que luz é ouro
Cautela, que o teu tesouro
Apenas é duradouro se não se perder


Quando a esmola é muita, o
 pobre
Olha desconfiado 
No estender da mão
Há qualquer coisa de nobre 
Que assiste ao pobre
Pobre na interrogação

Mas se a gente desconhece
O mistério das teias 
Que o universo tem
E no abrir da mão
Que às vezes transparece
Que às vezes somos tudo 
E noutras ninguém

Portanto não vale a pena
Gastar o nosso tempo 
Em coisas pequeninas
Se em nós a alma 
Se quiser tornar pequena
Há que dar-lhe o tamanho 
Das coisas divinas 

Lobisomem

Letra e música de Jorge Fernando
Repertório do autor 

Dizem todos que nasceu endiabrado
Num dia em que ninguém saiu à rua
E que traz o diabo incorporado
P’la força mais satânica da lua

Também dizem que transforma a sua forma
Em formas muito estranhas e malignas
Se o vêem fazem figas como norma
Praguejando outras coisas menos dignas

Mas ele é um bom rapaz
Ele é um bom rapaz
Mas ele é um bom rapaz

É só mania
Mas ele é um bom rapaz
Ele é um bom rapaz
Mas ele é um bom rapaz 

Durante o dia

Dizem que os seus pelos crescem num repente
E que uiva como um lobo em lua cheia
Altera o rosto e deixa de ser gente
Pra ser uma outra coisa que rasteia

Assim se cria a lenda, a história, o mito
Na imaginação fértil das pessoas
Afirmam que nasceu meio esquisito
À parte doutras coisas menos boas 

Fado reguila

Carlos Manuel Marques
Repertório de António Mourão 

Fado reguila da última fila
Que fala e protesta a gritar
Fado mendigo que diz “ai amigo”
Pedir é melhor que roubar;
Fado bigode e emblema
Ai fado nas praias ao sol
Fado da gema que não diz poema
Que sabe melhor futebol

Fado, fado, fado
Fado alegre, Zé ninguém
Fado, velho fado
Nunca a vida te quis bem
Fado reguila que nunca se atila
Que passa por mal educado
Ai fado, refila
Que a malta ‘inda está do teu lado


Fado rufia, calão sempre em dia
A falar no passado às garotas
Fado brigão, que só diz palavrão
E entra em casa com lama nas botas
Fado do tinto, imperial
Ai bica, cigarro, bagaço
Fado que joga e afinal
O dinheiro p’ra tal
Nem parece ser escasso

Fado, fado, fado
Fado alegre, Zé ninguém
Fado, velho fado
Nunca a vida te quis bem
Fado da rua que vês mulher nua
Cowboys, malandrice, kung-fu
Fado, recua
Que é tempo de veres quem és tu


Fado que não tem saúde
Ai fado que quer é comer
Fado que é simples e rude
Que na juventude
Não pôde aprender

Fado, fado, fado
Fado alegre, Zé ninguém
Fado, velho fado
Nunca a vida te quis bem
Fado vadio que tremes de frio
Que sentes a fome a chegar
Fado vazio
De tudo o que seja sonhar

Apetece

Rosa Lobato Faria / Alcino Frazão
Repertório de Carlos Zel  

Apetece uma flor, uma janela
Um candelabro, um verso do Bilac
Um cheiro de lilases, uma estrela
Uma fuga de Bach

Apetece um licor, um vinho velho
Um chá da China, cheio de perfume
Apetece uma história de mistério
Contada ao pé do lume

Apetece uma tela em tons de roxo
Um quadro de Giotto ou de Gauguin
Uma carícia quente no pescoço
Um bago de romã

Apetece uma rima uma oração
Apetece que chova, que faça vento
E haja um veneno, um filtro, uma poção
Que embruxe na memória
O coração fugaz, deste momento

Hei-de negar-te o perdão

Óscar Martins Caro / Alfredo Duarte Marceneiro
Repertório de Maria Augusta Bessa 

Passam meses, passam anos 
E nesta viva de enganos 
Ando a viver sem vontade
Só porque muito te amei 
E agora eu já não sei 
Porque te amei na verdade

Tivemos tantos ciúmes 
Compaixão dos teus queixumes
É o que me resta de ti
Canto com voz magoada 
Choro por tudo e por nada
 E ainda te ris de mim

Anda segue o teu caminho 
Deixa-me ficar sozinha
Nesta cruel solidão
Mesmo que um dia a chorares
Peças p’ra te perdoar
Hei-de negar-te o perdão

Maldita sina maldita 
Que a pequena ciganita
Há já alguns anos me leu
Antes não tivesse lido 
E não teria sabido 
A sorte que Deus me deu

Crónica

Vasco Graça Moura / José Campos e Sousa
Repertório de António Pinto Basto 

Eram barcos e barcos que largavan
Fez-se dessa matéria a nossa vida
Marujos e soldados que embarcavam
E gente que chorava à despedida

Ficamos sempre, ou quase, ou por um triz
Correndo atrás das sombras inseguras
Sempre a sonhar com Índias e Brasis
E a descobrir as próprias desventuras

Memória avermelhada dos corais
Com sangue e sofrimento amalgamados
Se rasga escuridões e temporais
Traz-nos também nas algas enredados

E ganhou-se e perdeu-se a navegar
Por má fortuna e vento repentino
E o tempo foi passando devagar
Tão devagar nas rodas do destino

Que, ou nós nos encontramos, ou então
Ficamos uma vez mais à deriva
Neste canto que é nosso próprio chão
Sem que o canto sequer nos sobreviva

Meias verdades

António Laranjeira / Rogério Ferreira e Rodolfo Godinho
Repertório de Cláudia Leal 

Se verdades me dissessem
Seriam meias verdades
Por me perder nas saudades
Que tais verdades trouxessem;
E se de amor padecessem
As nossas fragilidades
P’ra me perder de saudades
Que outras verdades viessem

Se verdades te contassem 
Seriam sempre verdades
De tantas coisas que sabes 
De nós, tão pouco falassem;
Mas se calados ficassem 
Fosse o que menos custasse
Se só verdades contassem 
E com saudades chorasses

Se coragem não tiver 
E a minha luz se apagar
Basta de ti me lembrar 
Para de ti me esquecer;
Nada que possam dizer 
Me vai fazer recuar
A minha fé vai chegar 
O fado faz-me viver;
Se coragem não tiver 
Basta de ti me lembrar

Povo do Ribatejo

Castro Infante / Jorge Fontes
Repertório de António Mourão 

Eu vou ver o gado 
Na tarde abafada
Vou entusiasmado 
Na minha montada

Depois, à noitinha
À luz do luar
A minha guitarra 
Começa a trinar

No Ribatejo é tudo alegre
E gostar de toiros 
É a nossa febre
Esperas de gado
Gente e alegria
Com fandango e fado 
Temos companhia

Sinto a vocação 
Para ser forcado
E tenho razão 
P’ra gostar de fado

Se foi na campina 
Que eu ao mundo vim
A festa de toiros 
Foi feita p’ra mim

O sal vem da saudade

Letra e música de Cláudia Leal
Repertório da autora 

A saudade vem do sal
Vem do sal das minhas lágrimas
Que ao correr de par em par
Já sem par eu vou correndo
Nesta solidão tão triste 
Pelas ruas da tristeza
P’la calçada eu vou 
Descalça e tão triste

E eis que um dia tudo muda
E vou a passo com os teus passos
Nada mais conseguirá separar-nos
Nem o tempo da distância;
O amor resiste a tudo e à saudade

De mãos dadas com a vida
Caminhando a par e passo
Porque a vida vai andando
Já não espera mais por nós
Abraçando o mesmo fado
Damos voz ao coração
Tão cansado de cantar, chorando

E eis que um dia tudo muda
E vou a passo com os teus passos
Unidos vamos nós p’la vida fora
Renascendo a cada manhã
O meu amor por ti 
E o teu amor por mim
Mesmo que um dia tudo mude
O amor escreveu a nossa história

Não faças caso

João Monge / João Gil
Repertório de Hélder Moutinho 

Se ouvires alguém dizer que te esqueci
Não faças caso, não faças caso
Não foi por tua causa que parti
Nem por acaso, nem por acaso

Não temos passaporte para a vida
Passamos as fronteiras sempre a salto
Não há quem olhe por nós lá no alto
E só nos resta a porta de saída;
Então aquilo a que chamamos vida
É o destino tomado de assalto

Por isso:
Os rios nascem à tua procura
O sol põe-se sempre ao teu redor
Qualquer casa parece melhor
Com uma janela para a tua brancura;
E cada barco que passe, é uma jura
De amor eterno, de eterno amor

Por isso:
Não temos passaporte para a vida
Por muito que a saudade às vezes doa
Mas quando o nosso coração entoa
O fado triste de uma despedida;
Sabemos o nosso lugar na vida
E toda a parte nos lembra Lisboa

Fiquei gelada e vivi

Hélio da Costa Ferreira / Pedro Rodrigues *fado primavera*
Repertório de Florênca 

Tinhas dentro do teu peito
Andorinhas a passar
Por entre sonhos d’amor
Ganhei forças, ganhei jeito
E os sonhos da minha dor
Voltaram a lá morar

Caminhos de pedras mortas
Gemidos, mentiras tais
Tudo vivi e calei
Eram entradas sem portas
Eram gritos, eram ais
Era sangue que te dei

Na noite da minha vida
Rastejei na tua porta
Procurando entrar em ti
Calei a boca perdida
Quando julguei estar morta
Fiquei gelada e vivi

Não peço a Deus melhor sorte

Manuel de Almeida / Silva Tavares
Repertório de Manuel de Almeida 

Não peço a Deus melhor sorte
Que ouvir as minhas cantigas
Na hora da minha morte
Nos lábios das raparigas

Para justo cumprimento
Do que penso eternamente
Declaro solenemente
Que este é o meu testamento
Eu não quero um monumento;
Mas que um coval me comporte
Ao pé do lobo mais forte
Que haja no topo da serra;
Mas se for na minha terra
Não peço a Deus melhor sorte

E tu, mulher, só desejo
Que não perturbes meu sonho
Só quero o teu abandono
Dado o teu ultimo beijo;
E alegre como te vejo
Te veja sempre de sorte
Que tendo sido o meu norte
Na luta do dia a dia;
Sejas a minha alegria
Na hora da minha morte