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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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* 7.260 LETRAS <> 3.120.500 VISITAS * MARÇO 2024 *

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Fado Francisca

Letra e música de Custódio Castelo
Repertório de Francisca Gomes                      

Foge a boca prá verdade
A quem o fado sentir
Se num verso de saudade
Saudade não existir
Sai alma p’la garganta
Saem gestos de emoção
Na voz de quem o canta
Com a voz do coração

À porta da minha história 
Ficará este meu fado
Cuja cor e a memória 
São presentes do passado

Deu-lhe a vida ser assim 
Corrente calma do rio
Tejo a correr em mim 
Por fim me acalma frio

À porta da minha história 
Ficará este meu fado
Cuja cor e a memória 
São presentes do passado
                                              
E sinto neste meu fado 
A luz divina do céu
Refletindo em meu olhar 
O fado que Deus me deu

É hora d’outro amor

Mário Rainho / José Marques *fado triplicado*
Repertório de Fernando Jorge 

Debruçada no meu canto
Por encanto ou por quebranto
A noite estranha aguarela
Desenha-me a voz num fado
Verso alado, emoldurado,
Posto em minha alma à janela

Cá fora, silêncios, gritos
Aflitos, infinitos 
De tanto amor sem pernoite
Nesta garganta um gemido
Quase perdido, sumido 
Que se estende toda noite

Não te alteres coração
Pela emoção, p'la paixão 
Que dentro em mim te represa
Como é possível gostares
De m’empurrares, obrigares 
A cantar quem me despreza

Compreendo as tuas dores
Os amores e desamores 
Mas a vida é deste jeito
Se um amor, se vai embora
Se tanto demora é hora 
De pôr, outro amor no peito

Fragata do Tio Bento

Helder do Ó / Casimiro Ramos *fado três bairros*
Repertório de Hélder do Ó

Fragata, rosa do rio
Ao sol, à chuva e ao frio
Sem fadiga nem canseira
Parece que estou a vê-la
Orgulhosa, de alta vela
À conquista da Ribeira

O patrão vem da lezíria
Troca palavras de gíria 
P’lo sal da vida que traz
Tem nas mãos rugas de amor
E tempera com suor 
As queixas que o rio lhe faz

Recordo-me do Tio Bento
Que em dias de pouco vento 
Que não dava p’ra zarpar
Contava histórias da lida
Que o prenderam à vida 
Com sonhos de alto mar

Meu Tejo, ficaste pobre
Sem a tua fragata nobre 
Emblema desta cidade
À Ribeira já não voltas
A vida virou-te as costas 
Deixaste em mim a saudade 

A rima desejada

José Fernandes Castro / Joaquim Campos *fado tango*
Repertório de Maja
      
Rimei o nome que tens
Com o nome que te dei
E foi assim que gerei
Esta paixão que faz lei
Quando a meus braços não vens

Rimei teu sorriso terno 
Com a ternura que sou
Mas a saudade aumentou
E agora não sei se vou 
Aguentar este inferno

Rimei a tua beleza 
Com a minha intuição
Hoje sou desilusão
Passando de mão em mão 
Porque tenho a alma presa

Só não rimei a verdade 
Que nos separa da vida
E assim, d’alma ferida
Trago a hora da partida 
Fazendo lei na saudade

Amar assim

Mário Rainho / Raul Ferrão *fado alcântara*
Repertório de Maria Armanda

Espreguiça amor
Sobre o meu corpo, o teu corpo
Para que fique absorto o meu olhar
Quero-te assim 
Nos meus lençóis de cambraia
Como onda que desmaia na praia-mar

Seria a estrela do mar, fruto proibido
Tu, um búzio ao meu ouvido, namorador
Os teus desejos, meu amor, doçura louca
São longos beijos na boca, versos d'amor

E assim nos antecede a noite
A tarde é pernoite e preliminar
Duma lua que já se adivinha
Sei não estar sozinha
Sei que vou amar
Pela noite, até madrugada
Não quero mais nada
Que correr o perigo
De discreta, (com teu corpo) 
Apagar a lua
Quero ficar nua, sozinha contigo

Hora tardia
Que para nós não é tarde
Enquanto esta chama 
Arde de amor, paixão
Este arrepio de suor, que "desagrava"
Mas que não apaga a lava deste vulcão

Nasce a alvorada como um grito da manhã
Ainda há cores de romã em ti e em mim
Não diga o mundo que este amor não é sagrado
Que é vergonha, que é pecado, amar assim
Que é vergonha, que é pecado, amar assim

Remos partidos

Lima Brumon / Helena Moreira Viana
Repertório de  Mariette Pessanha

Enquanto me olhas sem nada dizer
Remordo as palavras que nunca te digo
Abraçam-se as ondas antes de morrer
Não posso abraçar-te, quero morrer contigo

Na minha tristeza baloiça-se o vento
E vivo a apagar meus passos na areia
Se tu me procuras a  todo o momento
Sou palha queimada, o fogo não me ateia

Quem sabe se os barcos de remos partidos
Encontram a rota
Da margem mais certa
Os ventos são sete, são cinco os sentidos
E nada resiste 
À solidão completa

Aquela gaivota que a outra encontrou
Na praia deserta com uma asa partida
Deixou suas asas, nunca mais voou
Cada vez mais triste, adia a fugida

A força do mundo puseste aos meus pés
Que tinham pisado só lama e poeira
Não sei quem procuras, mas sei bem quem és
São belas as rosas e há quem as não queira

A graça do teu andar

Hélder do Ó / Alfredo Duarte *fado louco*
Repertório de Hélder do Ó

Há um não sei quê que me apraz
Quando te vejo sozinha
Beijando as pedras que pisas
Em cada passo que dás

Tens poesia no andar 
E olhar-te não sou capaz
Há algo que não entendo 
Há um não sei quê que me apraz

Quando à minha porta passas 
Tão simples, tão ligeirinha
O teu corpo é todo graça 
Quando te vejo sozinha

Da maneira que me olhaste 
Do meu amor não precisas
Mas seguiste, não paraste 
Beijando as pedras que pisas

Mas eu vou ser persistente 
E vou-me fazer audaz
Perseguindo o teu pezinho 
Em cada passo que dás

Voz do fado

Arnaldo Ruaz / Armando Machado *fado santa luzia*
Repertório de Ana Pacheco

Sentia-o desde menina
Estava já na minha sina
E no destino marcado
Que um dia viesse a escutar
Uma estranha voz a chamar
Que seria a voz do fado

Chamou-me num leve sussurro
Porém tão doce e tão puro 
Que corri ao chamamento
Abracei-o com emoção
E arde em mim a paixão 
Desde esse terno momento

O destino também ditou
A quem se apaixonou 
P’lo fado tão loucamente
Que com alma o defendesse
E até que a voz lhe doesse 
O cantasse a toda a gente

Fado chorado

Mário Rainho / Alfredo Marceneiro
Repertório de Fernando Jorge Amaral


Eu não chorei ao nascer
Dei um grito, foi de espanto
Como estivesse a prever
Que me ia acontecer
Toda uma vida de pranto


Pranto, por dentro, chorado 
A alma queimada e o rosto
Culpa dum choro salgado
Por, na vida, ter andado 
Só de desgosto em desgosto

Queria acender alegrias 
Subi-las ao universo
Mas as minhas poesias
Cantavam, só, elegias 
Choravam em cada verso

As lágrimas desmaiavam 
Nas rimas-ondas, sem cor
E os poemas se alagavam
Por verem que me cercavam
Analfabetos de amor

Eu não chorei ao nascer 
Dei um grito, foi de espanto
Eu estou vivo, podem crer
Mas já não choro-a-valer 
Porque sequei o meu pranto

Tempo de saudade

Hélder do Ó / Francisco Viana *fado vianinha*
Repertório de Hélder do Ó

Quando o tempo não apaga
A razão do sofrimento
É melhor dar tempo ao tempo
P’ra que outro tempo nos traga

Vou dar saudade à saudade 
Para ver se ela se cansa
Que eu ainda tenho esperança 
Se sentir felicidade

Vou dar tristeza à tristeza 
P’ra que entristeça de vez
Eu já me sinto cansado 
De estar triste tanta vez

Que seja assim

Letra e música de Hélder do Ó
Repertório do autor

Que eu respire em ti o ar fresco da manhã
Que eu seja em ti a força p’ra mais um dia
Que o nosso amor seja o ventre da romã
A desfazer-se em bagas doces de alegria

Que o teu olhar seja uma doce carícia
Que o meu desejo seja sempre o teu olhar
Que a nossa vida ultrapasse a fantasia
Temos no peito uma roseira a despertar

Que o nosso beijo seja sempre uma constante
Mas que o sintamos duma forma desmedida
Que o queiramos sempre mais, porque sabemos
Que o amor é a razão da nossa vida

Ouve lá ó pá

Letra e música de Alberto Janes
Repertório de António Mourão

Ser fadista é ser poeta, ambos são
O produto do poder do sentimento
O poeta dá aos versos, coração

O fadista pôe a alma no talento

P'ra que o fado possa ter uma expressão
Não importa a fatiota do artista
Tem que haver a emoção, senão então

Quem canta está fingindo que é fadista

Ouve lá ó pá, vem cá, vê
Se entras no tom que é
P'ra seres fadista, serás aprumado
Pontapé na nota com batota
Desafinado até
Não pode ser, nem é, próprio do fado

Um fadista é um artista, é vertical
E não é um fantasista, ou coisa tal
Tem a graça da chalaça bem metida
A cantar ou a amar, pôe toda a vida

Mantém sempre com aprumo aquele rumo
Que em tempos de fidalguia foi condão
Chora se vem a desgraça e não passa
Sem dar tudo o que tem ali à mão

A vida e o sonho

Letra e música de Ana Pacheco
Repertório de autora

Tão belo é sempre o sonho
Como a vida
Há sempre uma ilusão que faz viver
Quem sabe onde andará
Talvez perdida
A vida que julgamos merecer
A vida é o sonho e o tormento
A força e a fraqueza da emoção
O encontro, a luz e o momento
Amor, mágica, dor e ilusão

Lisboa mudou

Letra e música de Hélder do Ó
Repertório do autor

Sobre Lisboa, meu amor, vou-te contar
A tradição que se perdeu desta cidade
Os seus pregões já não se ouvem no ar
Da sua história ficou apenas saudade

Que é do teu fado vadio, pelas tabernas
Que é dos marujos, outrora navegadores
Que é dos fadistas, dos rufias de melenas
E das fragatas, dos arrais, dos pescadores

Mas mesmo assim
És um poema que eu invejo
És a gaivota 
Que ainda põe voz na Ribeira
És um poeta 
Que se inspira no rio Tejo
Tu és princesa 
E das cidades a primeira

Da velha Bica, só resta a escadaria
No Bairro Alto já não se cantam as trovas
E há missangas a vender, na Mouraia
Na Madragoa, em vez de fado, há bossa-nova

Os teus mercados tão velhinhos das peixeiras
Foram trocados por centros comerciais
Do casario baixinho e rude, hoje há Taveiras
E carroças a gizalhar, já não há mais

Faz-me pena, coração

Mário Rainho / João Maria dos Anjos
Repertório de Fernando Jorge


Faz-me pena coração
Que não saibas dizer não
Digas sim a quem me apouca
Pois se vives no meu peito
Porque te trago, imperfeito

Coração, ao pé da boca

Comanda a lua as marés
Tal como a lua tu és 
Quando fazes desmaiar
Ondas, lágrimas de sal
Que agigantas, por meu mal 
Nas praias do meu olhar

Pulsas, como adolescente
Por alguém, que me é ausente 
Esse amor que não me acalma
Dás-me, por pouco ou por nada
A lençóis de madrugada 
Onde me deito sem alma

Faz-me pena coração
Que a quem te quer digas não
Digas sim a quem não devas
Só espero que, nesta idade
Não me mates de saudade 
Coração, tu não te atrevas

Era o fado

Valentim Matias / Eduardo Lemos
Repertório de Valentim Matias 

Procurei-te em Alfama 
Fácilmente te encontrei
Nesse bairro onde tens fama 
E te ama como rei

Mas nesse novo dia 
Voltei a te encontrar
Com grande fidalguia 
Num palácio a cantar

Era o fado 
Gemido e chorado e até adorado
Que eu fui encontrar
O fado senti e a ele me prendi 

P’ra não mais deixar

Quantas vezes te encontrei 
E afinal que sei eu
Nem sequer te perguntei 
Se eras burguês ou plebeu

Ficas sempre entusiasmado 
Quando cantado com garra
Não dispensas a teu lado 
O trinar duma guitarra

Costumei tanto os meus olhos

Quadras populares / Popular *fado das horas*
Repertório de Ana Pacheco 

Costumei tanto os meus olhos
A namorarem os teus
Que de tanto confundi-los
Já nem sei quais são os meus

Vem cá dizer-me que sim
Ou vem dizer-me que não
Porque sempre vens assim
Perto do meu coração

Ó meu amor se te fores
Leva-me podendo ser
Que eu quero ir acabas
Onde tu fores morrer

Esquina da minha rua

Américo Patela / Rocha de Oliveira
Repertório de Celeste Rodrigues

Quem me dera, sonhos meus
Ser verdade o meu desejo
Ver o que há tanto não vejo
Na rua da Primavera

Primavera de esperança
Que dentro em mim continua
A viver a semelhança
Desses tempos de criança
Na esquina da minha rua

E já lá vão 
Esses tempos de ventura
A verdadeira razão
Da minha grande amargura
E a saudade 
Que faz de mim presa sua
Levando o meu pensamento
P'ra esquina da minha rua

A tão triste fim pertenço
Que de mim nada consigo
Anda a tristeza comigo
E de outro modo não penso

Chego a ser vida sem vida
Que vive noite sem lua
Sentindo a vida perdida
A vaguear esquecida
Na esquina daquela rua

Estarei onde?

Ana Pacheco / Loreena Mckennit
Repertório de Ana Pacheco

Pássaros com rosas vejo voar
Ventos de trovas enchem o ar
No mar se quer ir naufragar;
Estarei onde?
Não dei por chegar

Olhos que sorriem no meu olhar
Braços que me chamam
Num longo abraço
Prados que se estendem a cada passo;
Estarei onde?
Não dei por chegar

E tempo não anda
Não pára, não corre nem envelhece
Paira nos braços que nos enrolam
Dança e adormece

Fica nesta saudade

Mário Rainho / Frutuoso França *fado jovita*
Repertório de José Alberto
Esta melodia que aparece como sendo o Fado Jovita
é o Fado Moreninha de Santos Moreira


Deixa que fique, em mim, aquele gosto
Dos beijos, que me deste nessa era
Que tinham o calor do sol de Agosto
E o fresco das manhã de primaveras

Deixa que fique, em mim, essa lembrança
Dum tempo em que o amor, na nossa mão
Brincava, com jeitinho de criança
No balancé do sonho e da paixão

Deixa que fique, em mim, sempre presente
Esse sabor de ti naquela idade
Pois quero meu amor, eternamente
Que tu fiques em mim nesta saudade